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sábado, 25 de junho de 2011
Brisas e vendavais
Na minha vida foi sempre mais o que uma brisa me acrescentou do que aquilo que um vendaval levou.
Vem esta minha conclusão a propósito de andar a cantarolar este Dance Hall Days há uns quantos anos. Eis o tipo de canção que não passa de uma brisa que se cruzou no nosso caminho mas que, ao ser lembrada, nos volta a transporta àquela vez em que a sentimos (neste caso em que a ouvimos) ou àquela outra ou ainda a uma outra de que já nem nos lembrávamos. Porque nos trouxe alguma coisa e, neste caso, foi sempre boa disposição. É certo que custa configurar a hipótese de já se ter admirado a obra de uns tipos com o ar que estes transportam mas isso coloca-se na conta-corrente do capítulo "era da época".
Mas a minha dita conclusão vem ainda a propósito de um acontecimento recente na minha vida. Nos últimos dois dias, em circunstâncias diferentes, em locais diferentes e proferidas por duas pessoas completamente diferentes ouvi uma frase. Tem qualquer coisa de "frase feita" mas se era eu desconhecia-a. "Naqueles tempos éramos tão felizes e não sabíamos". Em 24 horas ouvi esta frase duas vezes e, como sou de prestar atenção a sinais, prestei-lhe atenção.
E sinto que esta frase, que foi sinceramente proferida, pode ser a expressão genuína do que ia na Alma das duas pessoas que a usaram. E provavelmente de muito mais pessoas. E até que quem a ouça a adopte porque se identifique com uma certa nostalgia.
Mas, em bom rigor, ela é na verdade usada como factor desculpabilizante para não sermos felizes agora. Porque é mais fácil contemplar do que agir. E porque deve ser reconfortante pensar que um dia olharemos para o momento presente a partir do futuro e repitamos a frase. É uma espécie de adiamento "sine die" da gratificação que MERECEMOS neste exacto momento: aquele em que vivemos e o ÚNICO em que podemos AGIR.
Tudo o mais será recordar e, consequentemente sorrir ou lastimar...
Por isso sigo sorrindo e sabendo que a próxima brisa me acrescentará aquilo que os vendavais continuam a retirar a quem nunca a saboreou. E que reviver é sempre melhor do que recordar :-)
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Lendo (relendo?) ...
- What the dog saw
- The Tipping Point
- Made in America, Bill Bryson
Ouvindo...
- The Smiths..."Reel Around the Fountain"
- Mozart... "alla turca"
2 comentários:
Olá, Veraneante!
Há qualquer coisa em si com a qual me identifico. Talvez a sua atenção de pormenor, o seu olhar de quem vê o que muitos não veem, a importância dada a sinais...
Pena tenho, todavia, de não poder atestar que, na minha vida, as brisas têm superado os vendavais. Talvez com mais tempo passado sobre o grande tornado que me traz aturdida, pois, à data de hoje, 3 anos e 5 meses depois da mastectomia a que me obrigou o cancro da mama, ainda não consigo o distanciamento que me permita olhar para mim sem me lembrar, para sentir esse acontecimento como uma brisa enriquecedora, nem para considerar esse "primeiro dia do resto da minha vida" como um dia do passado.
Tudo é presente, na minha cabeça, na minha alma, no meu coração. Nada mais existe, para mim, se não o presente, que é um tempo de liberdade como nunca tivera, pois a aguda consciência da precaridade da existência faz-me entender passado e futuro unicamente como ideias condicionantes do agora.
'Agora', tudo são brisas que me acrescentam, que me enriquecem e que me enformam... Tanto o passado, assemelhado a tábua rasa, mas que posso considerar um ponto de partida, como qualquer difícil vislumbre de futuro, que encaro como garantia de que ainda cá ando...
Gosto de saber que não tem havido vendavais por aí, :) E que as brisas têm sido ofertas simpáticas para a constante modelagem do seu ser.
Até nova brisa... *__*
Obrigado pelo enriquecedor testemunho e pelos votos finais!
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