Vão-se conhecendo os contornos do "Memorando de Entendimento" entre a troika e Portugal. Creio que seria a altura de alguém fazer chegar à troika um guia para que percebessem onde se meteram. Uma espécie de:
"Memorando a ver se nos entendemos"
1- Caso não tenham percebido como é que as coisas se processam por aqui deviam ter prestado atenção ao facto de que andavam vocês a passar a pente fino a papelada e nós estávamos a juntar a Quinta e a Sexta-Feira Santa ao fim de semana para 4 dias de descanso.
2-Se mesmo assim estavam distraídos deviam ter tirado alguma conclusão do facto de que saímos há uma semana de eleições e vamos ter mais 4 dias de descanso que vão ser gozados no Algarve (a dar como boas as notícias de hoje que falavam da melhor taxa de ocupação oriunda da procura interna nos últimos 5 anos).
3-Como não são bons a perceber indícios vamos ser claros: aqui trabalha-se por inevitabilidade.
4- Entramos às 9h e saímos às 17h mas com "nuances":
4.1- Entrar ao serviço não significa começar logo a trabalhar à maluca
4.2- Pausa para almoço significa isso mesmo: pausa. O almoço é instrumental
4.3- Sair do trabalho e enfrentar trânsito implica um chill-out que começa a meio da tarde
5-Estamos muito à frente na "percepção do tempo": os nossos relógios deixaram de ter minutos e a unidade-base com que medimos tempo é a meia-hora. Por isso não se admirem se uma coisa estiver combinada para as "nove...nove e meia".
6-Decorre do número 5 que quando nos atrasamos é sempre à razão da meia-hora porque os minutos são minudências que há muito deixaram de nos atrapalhar.
7-Um dia de trabalho tem rituais conforme o dia da semana e esses, enquanto expressão de uma autêntica religiosidade são para nós sagrados. Assim:
7.1- À 2a-feira não se pode deixar de discutir o futebol do fim de semana
7.2- À 3a-feira encerramos a discussão de futebol porque no serão de 2a-feira vemos sempre 3 programas distintos de análise da jornada que mostram com novas imagens que "aquilo foi mesmo penalty".
7.3- À 4a-feira temos uma certa angústia por "relativa falta de assunto" por isso temos uma quebra
7.4- À 5a-feira é dia de encerrarmos a planificação do fim de semana algo que fazemos em plenário
7.5- À 6a-feira uma antevisão da jornada de futebol e perdemos enfoque no trabalho com a aproximação vertiginosa do fim de semana
8- Quando não há futebol temos o clima por isso não nos falta assunto
9- O calendário gregoriano é para nós uma autêntica surpresa, acreditem ou não! Qualquer esforço de combinar coisas connosco pode sair prejudicado pelo facto de que, inesperadamente, "se mete o Natal", "se metem as férias de Verão" ou "se metem os feriados".
10-Mesmo que assim não fosse o calendário não é como vocês o entendem!
Em Janeiro estamos a recuperar das festas de Natal.
Em Fevereiro temos o Carnaval que dá sempre jeito porque, teimosamente, calha há anos a uma terça-
Em Março temos a Páscoa.
Em Abril temos, muitas vezes a Páscoa (indissociável da semana Santa).
Maio é um mês atípico porque paramos no dia 1 como a generalidade dos países e...mais nada.
Junho é mês de Santos Populares e porta de entrada para uma espécie de triângulo das Bermudas porque em Julho, Agosto e um bocado de Setembro as pessoas desaparecem. Quer dizer, não desaparecem todas mas o problema é o quórum!
Outubro é o mês da República e tirando isso estamos cá para trabalhar.
Até porque Novembro é outro mês de trabalho se excluirmos o dia 1.
Por isso é natural que cheguemos exaustos a Dezembro e que com feriados a 1,8 e 25 deveríamos tratar este mês carinhosamente como o nosso Agostinho: um pequeno Agosto.
Entenderam, portanto, que trabalho mesmo a sério (tanto quanto) é em Outubro e Novembro, certo? Ah! A propósito: historicamente é nesses meses que marcamos mais greves. É uma questão de nostalgia.
Posto isto: obrigado pelo dinheiro e agora vamos fazer os possíveis, sim?"
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