Número total de visualizações de páginas

terça-feira, 15 de março de 2011

Vida e rumos

A vida é a viagem de uma vida. Sabemos quando ela começou, não queremos que termine e nunca nos apercebemos do momento exacto em que estamos a meio da viagem. Talvez por isso ela deva ser tão bem preparada: para que se, de repente, chegarmos ao fim dela não nos queixemos de que ainda estávamos a fazer a mala ou de que estávamos a começar a gostar da paisagem ou da companhia ou do que estávamos a visitar e conhecer.
Por outro lado não é equilibrado acharmos que ela pode acabar a qualquer momento porque assim nem conseguimos gozar cada momento novo que ela nos proporciona.
Há um equilíbrio incerto, instável e desafiante em fazer esta viagem. Pela minha parte achei prudente há um par de anos assumir que, por um desses dias, devo ter chegado a meio da viagem.
A primeira metade foi consumida com preparativos. Chamemos-lhe educação, princípios, valores, "bagagem" cultural, de certa forma até experiência. É uma primeira metade muito importante porque ela vai definir parte substancial do que seja a segunda metade. Sobretudo porque é essa primeira metade que nos vai criar o rumo. Andamos a tomar balanço e depois seguimos viagem como que movidos pela inércia. E, como na física, quanto maior é a massa...maior é a inércia.
Sigo, assim, a minha viagem alimentado pela propulsão da primeira metade e auto-alimentado pela inércia grande de uma massa também ela grande que acumulei. E isso torna difícil mudarmos o rumo. Porque há muita inércia a "animar" o nosso movimento e porque, a certa altura, começamos a perceber que ainda que vençamos essa inércia a dificuldade de ganhar de novo velocidade para novo rumo é gigantesca.
O que custa é quando nos apercebemos de que o rumo que "definimos" na primeira metade da nossa vida nos leva por um caminho que, mesmo sendo o nosso, é difícil. A tentação para olhar para a nossa massa e pensar que é ela que nos impede de mudar o rumo é grande. Mas a verdade é que se começássemos a alijar a carga que transportamos até pode ser que consigamos abrandar e mudar de rumo..mas já não somos nós. Já não nos reconhecemos. E pior...temos menos tempo útil para andarmos a brincar aos rumos. E, pior ainda, nesse momento em que perdemos massa e velocidade pode ser que nos condenemos a parar o barco no meio de águas lodosas sobre as quais passaríamos em velocidade de cruzeiro se não nos achássemos capazes de nos darmos ao luxo de termos abrandado para mudar de rumo.
Qual o vício de todo este raciocínio? É o de olharmos para trás e de nos fixarmos no que carregamos. O que nos dá peso é o mesmo que nos dá massa crítica para despedaçarmos icebergs, rompermos águas lodosas e navegarmos no nosso rumo. Mas se encararmos como peso nunca lhe daremos o valor de massa. Se catalogarmos como pesada herança nunca valorizaremos como robusto património.
Por isso sigo o meu rumo! Não sei onde vou chegar mas esse é o tal desafio!
E acima de tudo tenho bem presente que a vida é MESMO a viagem de uma vida! E a segunda metade vai ser inesquecível porque eu mereço! :)

3 comentários:

Anónimo disse...

Gostei tanto! Para quando um livro? E é um alívio ver que não sou a única a sentir a vida assim. Mas pensas demasiado e exiges demais dos outros e se calhar esqueces que assim como tu carregam com a massa da vida que pode ser mais ou menos pesada mas que condiciona o presente, quer queiramos quer não! Compete-nos ter a inteligência de carregar apenas a aprendizagem positiva que pode ser útil no agora e que pode oferecer velocidade em vez de velocidade cruzeiro...
A vida é no aqui e agora, porque não sabemos se estamos no meio ou no fim, nunca! Viver aqui e agora, ser vulnerável, dizer e fazer tudo... Para que se o fim for amanhã, não termos nada vivido pela metade ou palavras por dizer, perdões a dar...
Pode ser um lugar comum, mas viver no aqui e agora é mais difícil do que se pensa e de uma enorme sabedoria

Anónimo disse...

Fabuloso Mario, gostei tambem muito de ler e saborei cada palavra.Já o poeta Thom Gunn dizia que "Está-se sempre mais perto se não ficarmos parados".Conhecermo-nos a nós proprios é um desafio, aceitarmo-nos é outro...e brindemos à vida com o flute da esperança bem cheio e borbulhante ;-)

LCC

Veraneante disse...

Diria que aceitarmo-nos mas nunca resignarmo-nos :)

Lendo (relendo?) ...

  • What the dog saw
  • The Tipping Point
  • Made in America, Bill Bryson

Ouvindo...

  • The Smiths..."Reel Around the Fountain"
  • Mozart... "alla turca"