Carmen Miranda cantava nos anos 30 do século passado que “jóia que se perde no Mar, só se encontra no fundo”. A letra não tem sido muito glosada mas o suficiente para que pela mão e pela voz de Marisa Monte tivesse chegado aos meus ouvidos em 1998. Ouvi, registei e soube que tinha tropeçado numa das (duras) verdades da vida. Dura porque revela que quando perdemos alguma coisa muito importante só a encontramos de novo se soubermos mergulhar tão longe quanto o Mar nos obrigar. Ou isso ou ficar a olhar para o Mar como se ele alguma vez nos devolvesse o que nos levou.
Por diversas vezes na minha vida dei por mim a olhar o Mar sem saber se mergulhava ou se lhe virava as costas. Sem saber momentaneamente, porque a minha natureza não me permite NUNCA virar as costas ao que me faz mover, ao que me faz vibrar, ao que me faz VIVER. Como tal, eu sou o mergulhador de serviço da minha vida. O que enche o peito de ar, se atira à água e procura chegar ao fundo para resgatar a jóia. Nunca morri a tentar e nunca morrerei a tentar mas também nunca morrerei sem tentar.
Na realidade o mergulho profundo que se segue foca-me. À medida que o ar vai escasseando nos meus pulmões o valor da jóia que repousa no fundo aumenta porque é por ela que eu me estou a sacrificar, que eu estou a levar ao limite o esforço das minhas capacidades. Ganho nova e mais aguda percepção de mim, ganho mais fôlego por cada vez que mergulho. Acontece chegar ao fundo e descobrir que a jóia se perdeu sob a areia ou que ficou presa em destroços do passado que no fundo jazem. E nessa altura resta o caminho de regresso à superfície. Doloroso mas menos penoso porque a caminho do ar de que me privei. De que me privei em prol da minha natureza de ir até ao fundo, de lutar, de nunca baixar os braços.
Quando termino o mergulho inspiro como se fosse a primeira vez. E esse ar que me entra nos pulmões dá-me fôlego para continuar. Para continuar a olhar o Mar e a mergulhar por cada jóia que lá perder. É esse o poder redentor da desilusão! Por cada uma fico com mais capacidade para enfrentar a seguinte e também com mais pulmões para encher com o ar doce e ameno que me preencherá quando, um dia, deixar de perder no Mar tudo o que me faça brilhar o olhar.
3 comentários:
If do Rudyard Kipling, nem faço copy/paste porque deves conhecer. Mas foi do que eu me lembrei... You are a MAN my son!
"If you can dream - and not make dreams your master" Será pelo menos SEMPRE esta frase que não fará de mim MAN (enough) :)
Tens razão! Hás-de ir sempre ao fundo procurar o que te faça brilhar o olhar.
Mas não te esqueças de passar mais tempo a respirar que a mergulhar. :)
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