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sexta-feira, 1 de julho de 2011

Arrumadores e políticos

Ontem à noite fui jantar fora. Não levei carro e quando estacionámos, por uma questão de cortesia para com quem me transportava, dirigi-me a um arrumador de carros disposto a gratificar o seu esforço para conter o impulso de riscar a pintura a quem estaciona em lugar escuro e não disponibiliza a moedinha.
O homem olhou para mim e disse qualquer coisa como "Não. Eu sou arrumador mas não aceito moedas de carros estacionados em cima do passeio".
Querem lá ver que um tipo emigra para o Estoril e quando regressa uma noite a Lisboa descobre que até os arrumadores desenvolveram um código deontológico?!!
Este episódio ocorre no mesmo dia em que o XIX Governo anunciou na A.R. a jogada do saque ao 13o mês. Jogada do saque porque tem um dos truques mais velhos e "batidos" do livro. Primeiro anuncia-se a medida em termos gerais. Depois, e perante o bruaaaahhh!, faz-se uma precisão que não é, nem mais nem menos, a exacta medida que se quis aplicar e se camuflou inicialmente.
É como ir ao médico e ouvir "não tem chances de sobrevivência" e depois quando o terror se apodera de nós perante o veredicto ouvimos "acho que não percebeu bem porque o que eu disse é que não tem chances de sobrevivência se não lhe amputar as pernas. E um número par de braços também..."
Foi isto que ontem nos foi transmitido sobre o corte no 13o mês.
Já ninguém se lembra de outras coisas que o médico nos tinha dito: "se fizer esta dieta nunca terá que amputar uma perna sequer" ou "desculpe estar a dar-lhe esta medicação mas é para evitar ter que mais tarde fazer uma amputação". Não! O alívio de ter a vida de volta faz com que se esqueça tudo.
Mas um dia a memória volta...mais não seja quando vierem dizer que ainda faltava extrair um rim.
E, legitimamente, pensaremos que o médico, afinal, é igual ao da Caixa mas que o escolhemos porque tinha melhor pinta e precisávamos de uma segunda opinião...

E porque é que no mesmo texto misturei arrumadores escrupulosos e políticos do saque? Porque, sinais dos tempos, os primeiros merecem mais confiança do que os segundos. Se não conseguem assegurar o serviço que se espera deles, não o reclamam nem aceitam pagamento.

2 comentários:

Marta disse...

Parece-me que temos que dar o nosso nib aos credores, pode ser que o rating suba...

Marta disse...

eu acho que me enganei e comentei este post e queria comentar o da moody´s... mood swings... Sorry!

Lendo (relendo?) ...

  • What the dog saw
  • The Tipping Point
  • Made in America, Bill Bryson

Ouvindo...

  • The Smiths..."Reel Around the Fountain"
  • Mozart... "alla turca"