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quarta-feira, 6 de julho de 2011

Moody's: os homens do lixo...

Comecei o dia a vasculhar no trabalho dos homens do lixo (que pode ser consultado aqui).

Li tudo e, de tudo o que li, permiti-me destacar esta frase:

"The negative outlook reflects the implementation risks associated with the government's ambitious plans."


É fantástico, não é? O Governo impõe-nos uma austeridade de consequências sociais não aferíveis mas adivinháveis como estranguladoras e a agência de notação acha que os riscos dessa austeridade justificam corte e vigilância negativa! Ou seja: fazermos qualquer coisa, darmos um qualquer sinal de vida é um augúrio de que não vamos conseguir sobreviver. Não seria preferível mandarmos a austeridade às malvas e olhar estes gajos nos olhos? Eles falharam anteriormente e cultivam uma aura de infalibilidade que ninguém (de peso) tem questionado. E na verdade o que são? Uma espécie de casa de apostas instalada num país que tem menos anos de antiguidade e história do que a Casa Batalha, na Baixa. É isto que nos chama "lixo" e que dessa forma, com o nosso conformismo e placidez, emporcalha séculos de história, zomba dos esforços que nos são impostos no presente e dispõe do nosso futuro como qualquer herdeiro cabotino e néscio que contempla as propriedades que um dia serão suas com um bocejo entediado.

Vai demorar muito até aparecer quem levante a voz contra o que nos está a ser feito? E não falo das vozes suspeitas, descredibilizadas e "marcadas pela impressão digital da mão esquerda".
Vai demorar muito até que o grito do Ipiranga volte a ser ouvido quase 200 anos depois e, desta vez, aqui perto de nós..?

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O homem ironicamente chamado Nobre

Fernando Nobre será, um dia, uma nota de rodapé no capítulo das bizarrias do livro que tratar dos "fait divers" da nossa política.
Mas a verdade é que poderia não ser. E aí o caso seria mais grave.
Fernando Nobre poderia um dia aparecer citado como o caso que lançou de forma irremediável o descrédito sobre as iniciativas de cidadania e a participação dos independentes na nossa vida política.

À conta do seu percurso sinuoso em que se adivinhava a cada passo a ganância (sim, porque chamar-lhe ambição seria reconhecer-lhe base), o homem que ironicamente se chama Nobre só não lançou um anátema sobre quem queira um dia trilhar de forma genuína esse percurso porque nunca foi levado a sério.
Caso contrário quem um dia pretendesse sair da "sociedade civil" para servir o seu país correria o risco de ouvir "Olha...lá vem outro como o Nobre..."

Mas não! Por vezes as Repúblicas copiam modelos que encontram nas Monarquias. As sucessões dinásticas eram um dos exemplos mais elquentes desse facto. Com Fernando Nobre são os bobos da Corte que nunca serão esquecidos. E só isso...

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Arrumadores e políticos

Ontem à noite fui jantar fora. Não levei carro e quando estacionámos, por uma questão de cortesia para com quem me transportava, dirigi-me a um arrumador de carros disposto a gratificar o seu esforço para conter o impulso de riscar a pintura a quem estaciona em lugar escuro e não disponibiliza a moedinha.
O homem olhou para mim e disse qualquer coisa como "Não. Eu sou arrumador mas não aceito moedas de carros estacionados em cima do passeio".
Querem lá ver que um tipo emigra para o Estoril e quando regressa uma noite a Lisboa descobre que até os arrumadores desenvolveram um código deontológico?!!
Este episódio ocorre no mesmo dia em que o XIX Governo anunciou na A.R. a jogada do saque ao 13o mês. Jogada do saque porque tem um dos truques mais velhos e "batidos" do livro. Primeiro anuncia-se a medida em termos gerais. Depois, e perante o bruaaaahhh!, faz-se uma precisão que não é, nem mais nem menos, a exacta medida que se quis aplicar e se camuflou inicialmente.
É como ir ao médico e ouvir "não tem chances de sobrevivência" e depois quando o terror se apodera de nós perante o veredicto ouvimos "acho que não percebeu bem porque o que eu disse é que não tem chances de sobrevivência se não lhe amputar as pernas. E um número par de braços também..."
Foi isto que ontem nos foi transmitido sobre o corte no 13o mês.
Já ninguém se lembra de outras coisas que o médico nos tinha dito: "se fizer esta dieta nunca terá que amputar uma perna sequer" ou "desculpe estar a dar-lhe esta medicação mas é para evitar ter que mais tarde fazer uma amputação". Não! O alívio de ter a vida de volta faz com que se esqueça tudo.
Mas um dia a memória volta...mais não seja quando vierem dizer que ainda faltava extrair um rim.
E, legitimamente, pensaremos que o médico, afinal, é igual ao da Caixa mas que o escolhemos porque tinha melhor pinta e precisávamos de uma segunda opinião...

E porque é que no mesmo texto misturei arrumadores escrupulosos e políticos do saque? Porque, sinais dos tempos, os primeiros merecem mais confiança do que os segundos. Se não conseguem assegurar o serviço que se espera deles, não o reclamam nem aceitam pagamento.

Lendo (relendo?) ...

  • What the dog saw
  • The Tipping Point
  • Made in America, Bill Bryson

Ouvindo...

  • The Smiths..."Reel Around the Fountain"
  • Mozart... "alla turca"